Persona e Você

O que é ser psicanalista?

 

Durante muito tempo o sofrimento mental foi negligenciado por aqueles que estavam ligados à Igreja. A atribuição deste tipo de sofrimento sempre a questões espirituais atrasou por muitos anos o tratamento de problemas que estavam em outras esferas, seja física ou emocional.
O sofrimento mental pode ter origem em problemas físicos, como, por exemplo, as características depressivas presentes em portadores de distúrbios da tireoide. O desânimo, a “preguiça” ou falta de vontade, neste caso, podem ser resolvidos simplesmente com o equilíbrio dos hormônios que certamente estão em desacordo com a normalidade do funcionamento da tireoide. Contudo, de maneira muitas vezes cruel, pessoas com este tipo de distúrbio foram tidas como “sem fé” ou atormentadas por espíritos malignos.
Da mesma forma, traumas gravados nas redes neurais do cérebro e muitas vezes nem lembrados de forma consciente, podem ser a origem de comportamentos disfuncionais, reações agressivas ou depressivas, sendo também atribuídos a problemas espirituais.
É importante lembrar que, no mundo espiritual, demônios podem sim se aproveitar de fragilidades dos homens e encontrar brechas para atormentá-los, mas esta seria uma consequência e não a origem de tal fragilidade.
Daí vem a extrema importância de saber qual é a origem do sofrimento mental, para que a causa seja tratada e a fragilidade sanada.
“E a sua fama correu por toda a Síria; trouxeram-lhe, então, todos os doentes, acometidos de várias enfermidades e tormentos: endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curou.” – Mateus 4.24
O texto de Mateus mostra de forma muito clara e específica as três esferas dos males que atormentam o homem: a espiritual (no texto, endemoninhados), a mental (os lunáticos) e a física (os paralíticos).
Jesus teve o domínio e curou a todos eles, mas, conforme lemos os Evangelhos que narram Seu ministério, foram usadas diversas maneiras. Por vezes, Jesus se dirigiu e ordenou ao demônio que deixasse o corpo da pessoa. Em outro momento, foi necessário um toque do Messias para que a enfermidade desaparecesse.
Não é nossa intenção discutir os métodos ou formas usadas por Jesus ou seus discípulos, mas ressaltar que na Bíblia também fica clara a divisão do que é de origem física, mental/emocional e espiritual.
Um ditado bem conhecido afirma que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Em uma compreensão bem simples, podemos dizer que não podemos evitar as situações que nos trazem desconforto, mas podemos decidir se perdemos a paz ou não com elas.
E isto já tinha sido anunciado por Jesus:
“Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”. – João 16:33
Contudo, essa opção de sofrer ou não com as aflições presentes no mundo só é possível quando estou portando de forma perfeita minha capacidade de decisão e escolha. E aqui é que aparece a primeira grande dificuldade, uma vez que a dor (aflição) é uma condição humana, fruto do pecado que entrou no mundo, e que vai minando a cada dia justamente esta capacidade de escolha (o domínio próprio).
O sofrimento mental pode se manifestar nas mais variadas formas e intensidades e definir o que é muito ou pouco doloroso não cabe a ninguém além da própria pessoa que sofre.
Temos o impulso de sempre medir de acordo com a nossa régua em todas as áreas da vida.
Chamar o outro de preguiçoso, por exemplo, porque precisa de mais tempo de sono do que você é ignorar que cada organismo possui o próprio “relógio biológico” e diferentes necessidades.
Assim, também, medir a intensidade de uma dor física ou emocional baseado exclusivamente nas próprias experiências é uma maneira muito superficial de julgamento, uma vez que somos resultados de diferentes histórias e trazemos bagagens diversas de nossas origens.
Um poema de Clarice Lispector, que vira e mexe aparece em postagens da internet, diz:
“Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter… calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida.”
Acreditamos que nem mesmo assim, calçando os mesmos sapatos, percorrendo o mesmo caminho e vivendo as mesmas experiências, é possível ter exatamente os mesmos sentimentos e experimentar as mesmas sensações, pois somos diferentes!
Diferentes geneticamente falando, com formações primárias de nosso organismo constituídas cada uma à própria maneira. Nossa constituição genética é tão complexa e única a ponto de nos identificar em meio a toda a população mundial!
Diferentes historicamente falando, com origens, vivências e histórias únicas. O lugar onde nascemos, somos criados, as pessoas com quem nos relacionamos desde o primeiro momento de vida, os livros que lemos e o que aprendemos ou deixamos de aprender constituem o repertório de vida que dá os parâmetros para nossas interpretações.
Diferentes emocionalmente falando, com traumas e afetos diversos. É só reparar que dois filhos dos mesmos pais, criados sob as mesmas condições, vivendo a mesma história, são afetados de formas completamente diferentes por cada uma das situações.
Por fim, se não bastasse ter sequência genética, digitais e afetos distintos, fomos criados e somos vistos por Deus como seres ÚNICOS, individuais e com características próprias. E é desta forma que precisamos entender e sermos entendidos.
Uma vez que compreendemos que não podemos comparar o sofrimento mental de duas pessoas, fica mais fácil também entendermos que não podemos (e não devemos) julgar o outro por sofrer de forma diferente da minha.
“Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.” –
Todos estes conceitos e questões podem ser tratados de forma leve, à luz da Palavra e com base científica.

Joelma Stefani – Psicanalista

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