Persona e Você

A morte de alguém que me importa e o luto que vem a seguir.

 

Somos seres de amor, de vínculo, de afeto, de envolvimento…. aquele que não se envolve é chamado de insensível, ou seja, não sente, não ama, não sofre. Por sermos seres de vínculo, nos vinculamos na vida, a um filho, a um marido, a uma mãe, a um pai, mas não só.
O vínculo se estabelece como uma forma de pertencer a algo ou alguém e também de que esse algo ou alguém nos pertença.
Pertencer é a razão do vínculo.
Podemos nos vincular ao cônjuge e na separação deixamos de pertencer a ele e ele a nós, perdemos um emprego de que tanto gostávamos, todas essas situações também trazem uma situação de luto. A palavra luto vem do latim “luctus”, que significa dor, perda, desconsolo. Mas é na morte de alguém muito querido, alguém a quem pertencemos afetivamente e que pertence também afetivamente a nós, que o luto se manifesta na sua total integridade, e por isso é uma fase tão difícil.
Dizemos “está de luto” , está enlutado ou enlutada, não saiu do luto.
Porquê?
Porque o luto é mesmo uma fase, um período, uma experiência psíquica, emocional, intensa. A perda do vínculo com o ser querido é sentida como o fim de tudo para aquele ou aquela que sofre a perda. Porque nos vinculamos afetivamente é que sentimos que morremos também, de alguma forma, ou sentimos que no íntimo queremos também morrer.
Pelo desconsolo com a perda perdemos o interesse pela vida, pelas coisas que dela fazem parte, estranhamos o cotidiano, como se ele não fosse mais como todos os dias anteriores ao dia da perda. Choramos, pranteamos, nos desesperamos, vamos à procura daquele ou daquela que tanto amamos mas não a encontramos mais, não está mais lá como sempre esteve, a realidade está mudada. A dor nos inunda, como se fosse o rompimento de uma barragem, de uma represa, que nos invade. Não queremos mais comer, ou beber, ou dormir, ou sonhar, ou pensar no futuro, sequer no dia seguinte, nada mais nos interessa. A perda do outro significa também a nossa própria perda.
E aí, precisamos reagir, não podemos e nem devemos seguir o mesmo caminho do ser querido, mesmo que sejamos tentados a isso. O luto é uma experiência devastadora, mas é um ciclo, algo que vai passar, por mais doloroso e angustiante que seja.
Temos filhos, temos mãe, temos um emprego, temos o empréstimo para pagar, a realidade nos chama. Uma paciente me disse “ eu vi o meu pai no funeral, mas não era mais ele, ele não estava mais lá, tinha desaparecido, era só o seu corpo” , ou seja, o ser querido já não faz mais parte da realidade imediata, faz parte agora apenas da realidade interna, aquilo que mora em mim, o sentimento e a lembrança de quem se foi.
O luto é uma fase, vai aos poucos dando lugar à continuidade das coisas, da vida, daquilo que ficou, um processo de reconstrução da realidade, de reconstrução psicológica.
Esse luto não precisa e nem deve ser transcorrido sem ajuda, sem apoio, sem um processo de acompanhamento. Aí é que entra a ajuda do psicólogo, do apoio humano e profissional. Não só, porque aqui em nossa clínica temos um grupo dedicado ao trabalho do luto, ao processo do luto , ao ciclo do luto. Um grupo de pessoas que podem viver uma experiência comum a todos os que participam e para que ninguém precise sentir-se só, diferente, deprimido todo o tempo. O grupo dá mais força para a superação, traz novas reflexões de sobrevivência, empurra todos para a vida, para o dia seguinte, que queiramos ou não, vai surgir.
O nosso grupo de apoio à superação do luto tem como objetivo reunir pessoas que precisam se reunir novamente, constituir seus vínculos outra vez, reparar o rompimento que o desaparecimento de um ente querido nos traz.
A psicóloga Ana Maria Dall’Agnese entende que no caso do luto, “buscar ajuda psicológica para enfrentar as dores emocionais pode ser um indicativo de força, de vontade de não sucumbir à dor e de não se conformar diante de um sofrimento, que pode paralisar e desestruturar a vida.”
Que “encontrar um espaço adequado para falar dos sentimentos é um investimento que pode trazer alívio para a dor e ânimo para seguir adiante, para recomeçar ou para mudar o rumo frente aquilo que está causando sofrimento.”

Marcos Borges, psicólogo CRP 06/10136

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